quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

QUINTA-FEIRA, 17 DE JULHO DE 2008

"O chacoalhar do ônibus pelas ruas esburacadas, se confundia com a pulsação em meu peito. Vinte e cinco graus, nenhuma brisa, sol a pico. E quanto mais o balanço se intensificava, mais eu sentia a vibração apertando. Aqui, ou lá. E batia forte, como se fosse explodir. E corria rápido, como se fosse decolar. A vista meio zonza, uma coca-cola e um pacote de batatas. Um relógio que não movia os ponteiros e o pensamento atordoado. Até que parou, porque me veio a luz de puxar a cordinha. E a respiração passou a se confundir com os passos pesados no asfalto. Aqui, ou lá. E fui subindo a rua cambaleando entre uma calçada e outra. Ensaiei um sorriso, arrumei o tênis, suspirei fundo. Abaixei para olhar pelo buraquinho do portão, como de costume. Tudo calmo. Levanto o olhar para a esquerda, e vejo quem eu mais queria ver. E então fecham-se as cortinas atrás de mim. Houve festa nos bastidores, mas só importa pra quem esteve lá."


Sinto como se fosse hoje - o tempo para algumas lembranças petrifica-se. As mentirinhas, as aventuras, as viagens cheias de expectativa. Sempre uma surpresa, uma novidade, um alívio. O telefone tocava e significava sim; o sol se pondo, chamava o fim. Contradigo. O tempo não parou. Passou correndo, trouxe mil e uma histórias. Quantos vai-e-vem sem sentido, quantas trilhas, estradinhas, jardins. Mas inevitavelmente surpreendo-me dormindo naqueles primeiros braços: que me ensinaram, que me descobriram. É coisa de louco. Vem gente, vai gente. E ninguém consegue ocupar o lugar que deixaram. Aquele nariz, aquela cicatriz, aquele olhar. Aqueles defeitos, aquela voz engraçada, aquele sono que roubava o meu. Aquele mistério, aquele carinho enigmático, traiçoeiro. Aquele prazer. Aquela mistura de imperfeições, de insanidades, das coisas que eu mais amava e mais me faziam bem.
Sinto como se fosse hoje. Odeio tê-lo conhecido. Nem sequer ameaço chorar. Mais intenso que isso - is called angústia. Seca. Dolorida. Eterna.
Daria muito, muito mesmo pra te ter denovo. Impossível. Nem nos conhecemos mais. É passado. Passado que me atormenta.

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