segunda-feira, 26 de julho de 2010

-adorei ter escrito "Judith". foram várias horas, muito tempo pensando para escolher as palavras certas. mas foi como tirar um peso, deixou-me leve. àqueles que acharam o texto muito pesado, não se preocupem. haverão partes amenas para serem lidas quando se está apaixonado. por enquanto, atenho-me ao que pede meu estado de espírito.-

Judith - final

"[...]Acordei num leito de hospital. Minhas feridas estavam limpas e cobertas com gazes, e uma bolsa de sangue pendia no suporte, cuja agulha estava fincada em meu braço. Levei alguns dias para me recompor e receber alta, tempo em que meus pensamentos mantiveram-se completamente desconexos. Em uma das madrugadas tive um delírio e precisei de calmantes. No entanto depois disso, tentei ao máximo me reerguer.

A ajuda viera de uma velha amiga da família que morava na cidadezinha próxima. Era uma senhora já viúva, dona de uma chácara nos arredores; posso lembrar-me de seu rosto quando era mais jovem. Costumávamos - meu pai, minha mãe e eu – visita-la sempre para ter o desjejum e fazer-lhe companhia. Assim descobri minha paixão pela musica, ao ouvir as suas mãos miúdas tocarem allegretos que combinavam com o nascer do sol. Fora minha tutora de piano por muitos anos, até que meu desempenho despertou o interesse de um professor da vila e meus pais preferiram o lecionar de alguém mais experiente. Já fazia algum tempo que o contato tornara-se escasso, e agradeci muito pelo afeto não ter sido levado pelo tempo. Ela foi como uma mãe nos dias em que passei internada. Permanecia longas horas na cadeira de visitas ao meu lado, mesmo que eu insistisse que não queria conversar com ninguém. Trouxe-me biscoitos amanteigados e suco de melão de sua própria horta. Talvez isso tenha me ajudado a melhorar.

Como a cidade fosse muito pequena, achou melhor não fazer barulho em relação ao assassinato, e eu concordei com essa decisão. O padre local realizou os ritos do velório e ela encarregou-se de sepultar meu pai ao lado de minha mãe. Eu não tive vontade de comparecer em nenhum momento. As imagens eram demasiado perturbadoras para que eu me sentisse capaz de suportar a situação. Quando consegui centrar um pouco meus pensamentos, conclui que nada me prendia mais àquele lugar. Sempre guardaria todas as minhas memórias, principalmente as da infância, carregadas de ternura e de paz. Mas também as lembranças das ultimas semanas, exageradamente pesadas. Vendi a fazenda e os animais no mesmo mês. Com parte do dinheiro comprei um flat no interior paulista, uma das maiores loucuras que eu poderia fazer. No fundo, eu não tinha ninguém em lugar algum.

Certa vez um renomado pianista tirava férias no campo e apreciara meu desempenho em um recital. Deu-me seu cartão, disse que eu seria muito bem vinda se quisesse tocar com ele. Era o momento, seria impossível recuar. Eu contei-lhe da morte de meu pai, e ele concordou em auxiliar-me a encontrar um trabalho na área, ressaltando inclusive que havia ótimas faculdades de música na região. Não pensei duas vezes. Mobiliei meu novo lar e transportei apenas meu piano, recheado de apego emocional. Seria o suficiente para recordar a casa onde nasci.

Quando senti que era hora de partir, minhas feridas já formavam grossas cascas, e as do rosto eram quase imperceptíveis. Meus pertences cabiam numa pequena mala de couro desgastada pelo tempo que a senhora me deu de presente. Agradeci muito toda a ajuda e o carinho, e prometi que jamais esqueceria o que ela fizera por mim. Não o bastante, ela me entregou uma foto cujo papel estava amarelado e sujo.

-Tenho duas cópias, fique com esta. Seus pais gostavam de vir aqui, quando meu marido ainda era vivo e a casa era cheia de alegria e sons. – e sorriu sincera, cavando marcas nos cantos dos olhos.

-Talvez você queira vir morar comigo... Também não há nada que te prenda aqui. – eu disse, sem ter certeza das minhas palavras.

-Obrigada, mas gosto muito deste lugar. Vivi toda a vida aqui, e jamais me imaginei terminando a vida longe de tudo que construí. – ela respondeu, afundando as mãos no avental preso em frente à saia. – Mas você deve ir. Teu jeito de tocar te levará muito longe, eu sei disso. Não deixe que nada te impeça de continuar.

Ela sabia que não era um conselho fácil de ser seguido. Nunca questionara sobre o que ocorrera naquela noite, e tampouco o faria. Sua sensatez visivelmente a impedia de invadir-me assim. Porém, chego a acreditar que ela sabia o que estava reservado a mim não muito tempo depois.

-Então está bem, tenho que ir agora. Não tenho palavras para agradecê-la. – e fui ao seu encontro, demorando-me num abraço.

Na foto, meu pai me tinha nos ombros segurando-me com uma mão, enquanto a outra enlaçava a cintura de minha mãe. Ao lado desta, a boa senhora e seu marido. Todos sorriam. Todos se esforçavam para petrificar aquela felicidade que transbordava. Deixei algumas lágrimas fluírem e depois as enxuguei com o antebraço. Para trás ficaram os olhos verde água da senhora. Segui rumo ao cemitério.

No caminho, comprei um buquê de lírios brancos. Fazia um dia de calor, como era de costume, e o sol parecia estar de bom humor. Assim despedi-me de meus pais. As flores destacavam em contraste com o mármore das lápides, e eu chorei mais uma vez. A leve brisa balançou as pétalas, fez um adocicado perfume atingir-me as narinas. Eu sorri. Levantei a mala nos braços e caminhei ao ponto de ônibus. Mudei-me para Campinas.

*

Comecei a trabalhar com o pianista e consegui uma vaga para o curso de música em uma renomada universidade. Três meses depois do ocorrido, a pele do meu rosto não dava sinais do meu passado, e eu realmente acreditava que iria recomeçar por completo. Mas o abismo mais uma vez surgiu sob meus pés de maneira egoísta:

Eu estava grávida.

Carregava o fruto de uma dor imensurável em mim, e a decisão de deixá-lo nascer era demasiado severa. Não tive muito poder de escolha. Não quis impor minha vontade e interromper o curso da vida. Uma criança arruinaria minha vida naquele momento, mas suportaria eu a dor de um dia ter impedido-a de nascer? Os sofrimentos me vinham com uma rispidez impressionante. Eu sentia meu peito se corroer de dor. E só não desisti porque sabia que meus pais se entristeceriam em ver a única filha desistir.

Nasceu uma menina. Fantasmagoricamente carregada das feições grosseiras daquele homem. Uma menina a qual dei o único nome que lhe convinha: Mara. Ríspida, severa, amarga. Mas Mara não era nada disso. Era doce, tenra. Mas Mara seria sempre, quisesse eu ou não, a minha amargura.

Judith - parte 3

"[...]Pouco sei do que ocorreu em seguida. Meus lábios estavam secos, pretendendo esfarelar-se feito papel a qualquer momento. A água salgada que escorria dos meus olhos secava-me as bochechas e encobria-me a vista com uma densa neblina. E a cabeça girava, latejava, pretendia estourar sem permissão. Não mais que alguns segundos depois de restarem apenas as marcas e os arranhões daquele estranho em mim, um ensurdecedor disparo encheu o ambiente, e um riso obsessivo encobriu qualquer agonia.

Foi a única vez em que desejei não ter nascido numa fazenda no interior de Minas Gerais, cujas noites exalavam o aroma de capim úmido misturado num silêncio desigual. A cidadezinha mais próxima ficava à meia hora dali, caminhando a passos largos e ritmados – trajeto que meu pai percorria frequentemente comigo nas costas e com uma enorme sacola pendurada em um dos ombros. Levava o queijo coalho que minha mãe deixava descansando em formas na cozinha, e eu sempre questionava quando poderia ajudá-la com o trabalho. E trazia as especiarias que não tínhamos sempre: os temperos, o arroz, o açúcar. Às vezes tecidos, outras, mais um pardal de bico colorido para nossa coleção. Mas sempre escolhia com precisão um vinho ou um chocolate, e alguns botões de flores que não cresciam em nosso jardim. Voltávamos ao entardecer, para encontrar a casa cheirando ensopado de galinha e pão fresco. E esse contexto preenchia-me de alegria, enquanto ocupava-me em estender o ramalhete de lírios à minha mãe. Ela sorria e meu pai beijava-a na testa carinhosamente.

Eram lembranças que vinham sempre. Mas já fazia muito tempo. Eu era só uma garotinha e minha mãe ainda estava entre nós. Agora tudo que eu queria era que houvesse alguém conhecido para entrar pela porta e perguntar o que estava acontecendo. O medo aninhou-me em seus braços e sufocou-me os sentidos. Para aquele homem, a crueldade falara mais alto. Não fora suficiente esquartejar a dignidade da filha ou dar mais uma chance ao pai. Simplesmente, disparou contra a única parte que mantinha minha historia viva, colocando um fim doloroso na existência. O corpo de meu pai jazia no mesmo canto do qual assistira o drama, pressionado contra os armários em baixo da pia. O sangue pintara-lhe a roupa como se tivesse sido mergulhada num balde de tinta vermelha, e seu rosto carregava uma expressão nauseante. O assassino cuspiu algumas palavras e desapareceu na penumbra da noite, cambaleando ao seu carro velho e perdendo-se na estradinha de terra deserta.

Eu deveria acordar neste momento. Tudo poderia ter sido apenas um pesadelo. Entretanto, bastavam alguns beliscões para ter certeza: eu estava sozinha, meu sangue escasseava cada vez mais e não havia ajuda por perto. Por sorte –mas prefiro acreditar um pouco em Deus- tive forças para arrastar-me até o telefone e discar o primeiro numero que vi. Uma voz sonâmbula atendeu, e minha rouquidão chorosa pediu ajuda. O aparelho fez-se imensamente pesado para minhas mãos, minha pressão caiu, a vista embaralhou.

Desmaiei ali mesmo.[...]"

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Judith - parte 2

"[...]Assim, sem ao menos pensar no que poderia acontecer (e gostaria de tê-lo feito), corri em direção ao meu pai, empurrei-o da cadeira com todas as forças que pude e acabei caída por cima dele, num ato efusivo e ridículo de proteção. O homem soltou uma gargalhada funda, abaixou a arma e agachou-se sobre mim.

-Meu senhor não disse que tinha uma beleza dessas em casa... – disse segurando meu queixo, enquanto passava os olhos por todo o meu corpo.

-Judith, o que você está fazendo aqui? Pelo amor de Deus Judith, o que você fez... – meu pobre pai arfava, repetindo meu nome incansavelmente após cada respiro – Não a faça mal, eu posso pagar tudo... – clamou ao homem que mantinha suas mãos no meu rosto.

Meus pés ardiam. As lascas de vidro espalhadas no chão fincaram-se neles, e a cada movimento sentia como se rasgassem a pele para acomodar-se melhor. O homem soltou meu rosto e com esta mão tampou a boca de meu pai. A única roupa que eu vestia era uma camisola fina, e isto permitiu que ele escorregasse o revólver pela extensão da minha perna, passeando o metal gélido como se fosse um brinquedo.

-Sem dúvidas vamos nos divertir... – sussurrou próximo ao meu ouvido, e um cheiro de álcool e tabaco revirou-me o estômago.

Meu pai debatia-se, tentando-se livrar da mão que pressionava ora sua boca, ora sua garganta, a cada tentativa de fala. O homem era forte o suficiente para matá-lo sem ar a qualquer momento, mas preferiu empurra-lo para longe de mim e, numa voz traiçoeira, disse:

-Se eu fosse o senhor, não faria nada. Posso apagar vocês agora. Mas quero a tua cachorra primeiro... Aliviaria a tua dívida, o que acha? – e mostrou os dentes mais uma vez.

Ele manteve a arma erguida na direção de meu pai, encurralado em um canto, por muito tempo. Eu ainda estava no chão, mas tinha a roupa rasgada e o resto do corpo também havia encontrado as lascas de vidro. Senti suas mãos encardidas me tocarem por inteiro, enquanto o suor que escorria de suas têmporas pingava no meu rosto. Nunca desejei tanto conseguir vomitar, mas era impossível: não havia nada no meu estômago. Vasculhou o bolso e pegou um canivete. Meu coração disparou ao ver a lâmina levemente enferrujada, e como ele tivesse percebido meu desespero, agarrou-me com força e riu:

-Você vai pagar pelos erros do teu pai, cachorra! – e fez brotar sangue das minhas coxas – E você, senhor, veja que maravilha! – blasfemou contra meu pai.

Eu sabia que se tentasse sair dali seria pior. Não era capaz de andar, e a vida de meu pai estava em jogo tanto quanto a minha. Minhas pernas ardiam como se estivessem em chamas, e o sangue escorria incansável. Eu podia gritar. Mas cada grito meu significava mais uma ferida aberta. Eu não tinha mais fôlego. O homem ria o tempo todo, e ânsias me dominavam. Até que ele me puxou pela nuca e colocou-me de bruços no chão. O vidro misturado com sangue tocou meus seios, e eu gritei. Só pude sentir seu corpo empurrando meus quadris, sua saliva nas minhas costas, sua força erguendo-me a cabeça para trás. Realmente acreditei que iria morrer. Mas alguns minutos depois estava largada no chão, juntando as lágrimas aos demais dejetos e tentando encontrar forças para levantar.[...]"

para MARA.

e isso foi a coisa mais pesada que eu já escrevi, mas continua.

é, hora de respirar fundo e dizer 'o mundo não para pra gente se recompor.'

domingo, 18 de julho de 2010

Judith - parte 1.


"O mormaço da noite interiorana aliada aos mosquitos traiçoeiros e ao cheiro forte de cravos fincados em limões, justamente na tentativa de manter os insetos afastados, impedia um sono constante. Os lençóis estavam revirados, o pijama grudado no corpo, o som inquieto dos grilos coçava os ouvidos. Talvez um pouco de água refrescasse a situação e me fizesse dormir. Atravessei o interminável corredor que levava a cozinha, a qual tinha a luz fraca e amarelada acessa. Estranhei, passavam das duas da manhã. Provavelmente meu pai esqueceu-se de apagá-la ao deitar-se, pensei. Mas no instante em que apoiei as mãos no batente da porta para adentrar no cômodo, um estilhaçar de garrafas de vidro ecoou pela casa. Seguiu-se de vozes pesadas que gritavam, vozes graves e cujas vibrações, se palpáveis, poderiam ser como fios de aço. Encolhi os braços e prendi a respiração. Mantive-me rente a porta, o suficiente para assistir a cena.
-Espere, tem de haver algo que eu possa fazer... – murmurou nervoso um homem.
Era meu pai, envolvido num desespero incomum.
-Quero meu dinheiro, é difícil entender isso? – retrucou o outro, fazendo voar uma cadeira que veio destruir-se bem a minha frente.
-Não tenho como pagar agora, podemos fazer um acordo... Eu...
-Acho que o senhor, -o homem ironizou o tratamento- já tem muitos acordos pendentes comigo! – e tragou o restante da bebida que havia em seu copo como se quisesse acalmar os nervos. – Há anos você aposta o dinheiro que não tem, não posso mais com isso. A situação está perigosa, as ameaças são cada dia piores. A casa de jogos é minha, e não vou perdê-la por tua causa!
O homem terminou a frase em pé, com o dedo apontado a poucos milímetros dos olhos de meu pai. Apoiou as duas mãos na beirada da mesa e deixou cair a cabeça para frente, bufando e balbuciando palavras para si mesmo.
-Não achei que fosse tão grave... Tudo o que tenho é esta chácara, é meu único trabalho, garanto que posso pagar a dívida aos poucos... – suas mãos tremiam, mal conseguiam erguer o copo e leva-lo a boca. Com grande esforço, engoliu uma dose inteira, pôs-se vermelho e emudeceu.
O homem ergueu-se de súbito. Mal se mantinha ereto e sua roupa estava tão suja que arriscaria dizer que não a lavara nunca. Era moreno, com grandes sulcos na pele do rosto e a barba encharcada de bebida. Seu olhar era carregado de ódio e os dentes escurecidos formaram um sorriso assustador ao gritar:
-Vou ter que explicar de novo? – ele tirou um revólver de dentro da calça – Não estou para brincadeiras! – e acomodou-o na testa de meu pai.
Eu estremeci. Era claro que meu pai havia cometido erros, mas em toda minha vida, não houve um dia sequer sem comida para as refeições; nenhum inverno sem cobertores; e nenhum verão sem que ele ajustasse o balanço da árvore conforme eu crescia. Meu pai bebia. Meu pai apostava o dinheiro que não tinha. E quem sabe mais o que fazia pelas ruas? Mas sempre fora um bom pai para mim. Estar prestes a assistir a sua morte, foi como rasgar-me o peito sem que eu pudesse desfalecer.[...]
"

Para MARA.

Judith - parte 1.


"O mormaço da noite interiorana aliada aos mosquitos traiçoeiros e ao cheiro forte de cravos fincados em limões, justamente na tentativa de manter os insetos afastados, impedia um sono constante. Os lençóis estavam revirados, o pijama grudado no corpo, o som inquieto dos grilos coçava os ouvidos. Talvez um pouco de água refrescasse a situação e me fizesse dormir. Atravessei o interminável corredor que levava a cozinha, a qual tinha a luz fraca e amarelada acessa. Estranhei, passavam das duas da manhã. Provavelmente meu pai esqueceu-se de apagá-la ao deitar-se, pensei. Mas no instante em que apoiei as mãos no batente da porta para adentrar no cômodo, um estilhaçar de garrafas de vidro ecoou pela casa. Seguiu-se de vozes pesadas que gritavam, vozes graves e cujas vibrações, se palpáveis, poderiam ser como fios de aço. Encolhi os braços e prendi a respiração. Mantive-me rente a porta, o suficiente para assistir a cena.
-Espere, tem de haver algo que eu possa fazer... – murmurou nervoso um homem.
Era meu pai, envolvido num desespero incomum.
-Quero meu dinheiro, é difícil entender isso? – retrucou o outro, fazendo voar uma cadeira que veio destruir-se bem a minha frente.
-Não tenho como pagar agora, podemos fazer um acordo... Eu...
-Acho que o senhor, -o homem ironizou o tratamento- já tem muitos acordos pendentes comigo! – e tragou o restante da bebida que havia em seu copo como se quisesse acalmar os nervos. – Há anos você aposta o dinheiro que não tem, não posso mais com isso. A situação está perigosa, as ameaças são cada dia piores. A casa de jogos é minha, e não vou perdê-la por tua causa!
O homem terminou a frase em pé, com o dedo apontado a poucos milímetros dos olhos de meu pai. Apoiou as duas mãos na beirada da mesa e deixou cair a cabeça para frente, bufando e balbuciando palavras para si mesmo.
-Não achei que fosse tão grave... Tudo o que tenho é esta chácara, é meu único trabalho, garanto que posso pagar a dívida aos poucos... – suas mãos tremiam, mal conseguiam erguer o copo e leva-lo a boca. Com grande esforço, engoliu uma dose inteira, pôs-se vermelho e emudeceu.
O homem ergueu-se de súbito. Mal se mantinha ereto e sua roupa estava tão suja que arriscaria dizer que não a lavara nunca. Era moreno, com grandes sulcos na pele do rosto e a barba encharcada de bebida. Seu olhar era carregado de ódio e os dentes escurecidos formaram um sorriso assustador ao gritar:
-Vou ter que explicar de novo? – ele tirou um revólver de dentro da calça – Não estou para brincadeiras! – e acomodou-o na testa de meu pai.
Eu estremeci. Era claro que meu pai havia cometido erros, mas em toda minha vida, não houve um dia sequer sem comida para as refeições; nenhum inverno sem cobertores; e nenhum verão sem que ele ajustasse o balanço da árvore conforme eu crescia. Meu pai bebia. Meu pai apostava o dinheiro que não tinha. E quem sabe mais o que fazia pelas ruas? Mas sempre fora um bom pai para mim. Estar prestes a assistir a sua morte, foi como rasgar-me o peito sem que eu pudesse desfalecer.[...]
"
Para MARA.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

strangest day ever.

Depois de tantas horas de conversa, depois de tantas risadas e tantas besteiras, eu comecei a sentir que já te conhecia. Não acredito nessa de vidas passadas, pra mim só existe o aqui e o agora. Mas se eu acreditasse, diria que a gente foi irmã em algum momento. Que coisa estranha, devíamos no mínimo não nos dar bem, pelo contexto. Mas dividir as histórias e rir delas pareceu muito mais construtivo. E isso sem falar em todas as coisas em comum, todos os gostos, o jeito de rir, a necessidade de falar alto. No fundo, não acho que você apareceu por acaso. pode até dizer que eu andei te ajudando, com minhas piadinhas sem graça e o meu apoio. Mas acho que você me ajudou mais. Qualquer coisa que eu pense em fazer, me faz sentir traindo alguém que acredita em mim. E não se trái a família né? Nem da outra encarnação. (:
Adorei conhecer você, de verdade.
Tcs, mas você gosta de rosas, acredita em romances e tem complexo de 'anti-fotogenia'... nem tudo são flores :p
HAHAHAHA

terça-feira, 13 de julho de 2010

Adorei o design, combina com o blog *-*
gostou? :)
obrigada de novo, por estar comigo linda.


"O homem pode acreditar no impossível, mas nunca pode acreditar no improvável."
Oscar Wilde

domingo, 11 de julho de 2010

obrigada pai, por colocar as pessoas certas na minha vida, e tirar aquelas que não merecem fazer parte dela. (:
Já ouviu aquela 'tudo o que vai, volta em dobro'? pois quero ver a hora que você ficar impotente quem é que vai se importar. Você tem medo disso? Ouvi dizer que a imersão em ácido sulfúrico ajuda a prevenir. porque não experimenta?
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH

meus amooores, não fiquem tristes, as ocitoninas são as culpadas.
no fim tudo passa, até uva passa.
o novo é muito mais legal, ele dá dez em uma noite e continua em pé. e sabe o que é melhor? eu
posso falar baixinho que ele me escuuuuta. RARARÁ. É mole mas sobe. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar meu colírio alucinógeno. (como diz o bom e velho simão.)
Fui canalha, fui ;D
Foi o pior fim de semana ever. Não sei nem explicar. Ninguém mandou querer abraçar o mundo. Quem quer tudo acaba sem nada, é bem assim. Estou sem força pra seguir em frente, sem força pra continuar, gostaria mesmo é de me enfiar num buraco e só sair de lá quando 2011 acabar. Eu só queria que alguém se importasse comigo, que alguém me disesse que eu faço falta. Eu só queria atenção, carinho, afeto. Eu só queria me sentir completa.

sábado, 10 de julho de 2010

:/

Sem sombra de dúvidas, você foi o maior erro de toda minha vida.
Mas se eu pudesse voltar atrás não pensaria duas vezes; faria tudo de novo.
Já fazia tempo que eu não chorava por você, fazia tempo que não pensava nos porquês. Achei que ter o teu telefone era suficiente, que você não recusaria me ver. E tanto eu esperei, eu ensaiei, pra fazer o convite certo, na hora certa, no momento oportuno. Bem dizem que o perfeito demais nunca é verdade. Não tenho medo maior do que pensar em nunca mais te ver, do que nunca conhecer alguém que me faça suportar a tua ausência. Eu sei que nunca vou te esquecer. Não haverá outra oportunidade como esta, e tudo que você precisava fazer para poupar este drama, era tirar algumas horas pra mim. Mas você não quis...
Desculpa, eu realmente achei que o tempo apagaria esse sentimento de mim.
Odeio quando perco o controle da situação.
Acho que já é tarde pra você mudar de ideia, mas bem eu gostaria que não fosse.
Não quero mais escrever sobre você aqui.
Não quero mais amar você.
Algumas horas comigo e poderia ter poupado tanta coisa! Ah...

terça-feira, 6 de julho de 2010

Apelidos?

Era Hell, mas porque eu tinha meus motivos. Se for perguntar pra maioria, era hell de capeta. Depois Mel. De que? De charme. Agora Juju. Adivinha... de encosto alheio. Ou de panicat? Eu sei lá. Só sei que não sou nada disso que se vem falando. Eu sou simpática, sou alegre, meu sorriso atrái? Que bom. Tenho mania de abraçar, de fazer gracinha. Eu não vou mudar. Minha vida anda tão ampla e meus sonhos tão altos, que não estou ligando muito pra nada. Só pra alegria que anda nascendo nos corações por aí. Geralmente, não precisa ser panicat para estar bem. Mas Juju é bonitinho ;')

realiza meus devaneios literários? só que sem velas. falando sério, só ficam boas nos textos...

sábado, 3 de julho de 2010

Workshop

A vista turvou, mal pude sentir meus pés. Corri, por pouco não tropecei. Entrei no banheiro, sentei em algum lugar e coloquei a cabeça para baixo. E fiquei assim, por um tempo adimensional, privada de qualquer movimento, qualquer reação. Só meus pensamentos fervilhavam. Estancavam o suor que queria escorrer pelas têmporas, desviavam a atenção do formigar dos membros. E corriam, de um lado para o outro, carregando nas costas todas as dúvidas que acabavam de nascer. Eu não vou conseguir assim. E se eu não conseguir, o que é que será de mim? E os pensamentos blefando, apontando seus dedos gordos e rindo. Você não vai conseguir. E se você não conseguir, será uma fracassada. Onde é que você vai se inserir se não for aqui? E zombavam, curtiam o ferimento que acabava de aparecer, espancavam a consciência. Foi aí que reuni todas as minhas forças, avancei e me joguei em cima dos pensamentos. Arranquei as dúvidas pelos cabelos. Estraçalhei-as. Agora, parem com isso. Existir, existam. Mas para o progresso e não para obstruir meus caminhos.
Levantei, arrumei o cabelo e voltei para o auditório. Que lapso fora aquele, eu não sei. Mas quase deixou-me abalar. Sintetizei meus anticorpos, ganhei a imunidade a esse medo idiota. E o dia foi maravilhoso. Enjoô passa. As minhas vontades não.
MEDICINA, UM SONHO. UMA BATALHA. UM DESAFIO.
QUE VENHA ENTÃO.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O mais engraçado sobre a vida é isso: um dia estamos muito bem, outro, muito mal.
Mas parando para pensar, gostaria de ter mais dias bons que dias ruins.
Hoje o nível de endorfinas chegou ao extremo, mais um pouco e não tenho a mínima noção de onde iria parar. É bom saber que se divertir não depende de ninguém. É bom saber que acreditar nos seus sonhos também não. E é bom ser um tanto eufórica, um tanto fútil, um tanto incoerente e um tanto boba. De vez em quando faz muito bem...
vodka? gosto.
sexo? também.
amor? o que é isso?