segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

About you

"Repousei a cabeça em seu ombro esquerdo enquanto me afundava no colchão. O ambiente estava iluminado apenas pela luz da tv - cujo som se misturava ao do ventilador que chacoalhava num canto. Debaixo da colcha fina, no calor umedecido pela madrugada, sentia seu corpo -a barriga subindo e descendo, os pés gelados, as pernas enrroscadas- junto ao meu.
-Posso contar um segredo? - rompi o silêncio sussurrando.
Ele assentou com a cabeça e balbuciou algum som. Entendi que podia.
-Nunca me senti assim.
-Assim como? - ele devolveu.
-Assim tão... - não conseguia encontrar as palavras certas - tão...querida. Acho que ninguém nunca me tratou como você me trata.
-Não te entendo - ele retrucou como se estivesse indignado - você é linda...com certeza existem muitos querendo estar com você, é provável que eu seja só mais um.
Apertei as pálpebras por segundos que pareceram eternos. Mordi os lábios, suspirei. Engasguei com as frases que não queriam sair e tive medo. De súbito, senti uma de suas mãos segurando minha cintura e me aproximando mais -como se sentisse minha angústia. Sua barba por fazer arranhou de leve minha bochecha. Afastei o rosto.
- Minha beleza e meu bom humor atraem...infelizmente não são capazes de mais nada além disso. Sei que você conhece pessoas com quem já me relacionei. Por favor, olhe para eles apenas como aqueles que fizeram da carne a única valia, e que me ensinaram o peso da solidão.
Meus olhos estavam inchados d'água. Tornei-me mais ofegante. Ele permaneceu calado, atônito. Eu não queria chorar. Eu não podia chorar. Não muito depois, ele tirou a mão da minha cintura e pousou-a no meu queixo - virou-me o rosto em sua direção.
-Não quero olhar para ninguém- disse esboçando um sorriso tímido, suficiente para que eu visse o pequeno espaço entre seus dois dentes da frente - Não me importa nada do que passou.
E segurou com o indicador uma lágrima que escorreu pelo canto de um dos meus olhos.
-Ninguém nunca passou tanto tempo falando bobagens no telefone comigo, nunca me perguntaram onde eu queria ir. Ninguém nunca me fez brigadeiro só porque eu estava com vontade de doce, ninguém nunca dormiu comigo tantas vezes assistindo tv...-listei enquanto soluçava sem receios.
Olhei nos seus olhos, quase sentindo ofuscar a vista o brilho das suas pupilas azuis. Ensaiei, pisquei, afastei os lábios.
-Promete uma coisa? - não esperei que respondesse - Promete que não vai me deixar como tantos já fizeram? Promete tentar enxergar que sou mais que carne e ossos e que posso fazer você feliz?
Tencionei os músculos, prendi a respiração. A luz dava todos os tons de cobre ao seu cabelo claro; hesitei em tocá-los. Ele secou-me a face com os polegares, escorreu as mãos pelo meu cabelo e encostou a boca em meu ouvido.
-Promessas são dívidas - sussurrou - apenas por isso, tenho uma dívida com você.
E apertou com força os lábios contra os meus.
Tinha encontrado meu refúgio, minha paz e meu caminho."

Make it true...