quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Você conseguiu (:

"Eu nunca vou entender ao certo o que você foi pra mim. Um refúgio? Alguém pra dividir tudo o que ninguém mais queria ouvir mas eu precisava falar? Alguém pra me estender a mão e me livrar da areia movediça? Não sei. Hoje você não está longe, mas poucos quilômetros que me parecem um infinito inteiro. Cheguei a pensar se conseguiríamos continuar tão próximas mesmo depois que chegássemos ao oásis. Naquele momento tive medo, decidi não pensar mais sobre isso. Hoje estou sentada sob um coqueiro, é uma festa, você encontrou uma fonte na imensidão daquelas areias. Sabe, não consigo me conter de felicidade. Por ter te dado motivos para ser mais forte que as tempestades, por te confortar quando fazia muito frio durante a madrugada. E por ver que bastou um passo perante o outro, bastou um sorriso para que algo se transformasse em mais que uma miragem. Isso me dá fé. Me faz acreditar que além daquelas dunas existe um lugar pra eu construir meu palacete - com cascatas, jardins, e com salões cheios de tapetes e almofadas de seda vermelha. Você está construindo o seu, agora que encontrou boas águas. Não posso, nem quero, saber o que há dentro dele, isso não cabe a mim. Tampouco posso sugerir as flores, os adornos das fontes ou a cor dos tecidos. É um lar só teu - intransferível e único.
Não tenho muito tempo debaixo desta árvore. Preciso juntar meus pertences e continuar a minha caminhada. Quão longa é, ninguém sabe. Mas por mais que me agrade teus beirais dourados, não posso ficar a admirá-los. Não, não confunda as coisas. Ainda temos muitas estradas para seguir de mãos dadas. Mas neste deserto, teremos que nos separar. Nunca construí nem sequer uma estalagem temporária, quanto mais um palácio! Nada posso dizer sobre estátuas angelicais que despejam água. Nem sequer imagino o som do líquido chapinhando e reluzindo ao sol. Talvez entenda de cetins, sedas, algodões... não, jamais amanheci aninhada em tecido algum, portanto nada do que sei é útil que compartilhe contigo.
Mande-me fotos, escreva cartas e deixe escapar segredos dos teus aposentos, dos teus lençóis e das tuas flores. Me encanta ouvir histórias com aromas tão românticos. Meus bilhetes chegarão, mas perdoe a aridez constante e a brevidade. É tão fatigante a viagem em lombos de camelos exaustos, tantas são as cobras escondidas, que às vezes você sentirá que nos distanciamos demais. Acredite, estamos sob o mesmo solo, mas eu ainda não tenho refúgio. Passarei muitas noites em acampamentos misteriosos, recostarei o corpo em muitas redes encobertas apenas pela abóbada celeste. Sonharei com almofadas quentes e chá morno ao cair da tarde, e acordarei em camas de palha seca, aguardando um incerto desjejum. Mas não se preocupe, ficarei bem. Pois quando encontrar meu oásis, mandarei sinais aos quatro ventos, e o céu há de se encher de alegria. Você com certeza se sentará sob a sombra de minhas árvores, e eu esmiuçarei minha felicidade. Sim, darei uma grande festa, mesmo que você também não possa passear pelos meus corredores. Trocaremos palpites sobre adornos e cortinas, sobre refeições e diamantes.
Ah, anseio essa festa, anseio um lugar para dormir tranquila...
Sentirei saudades, dos nossos tempos de caminhada. Mas estou feliz, pelo menos sei que você está em segurança baixo esse teto."

fiquemos agora com a realidade paralela: temos a mesma ambição, comprar um iate chamado medicina. hum, ainda estamos de mãos dadas... (:

2 comentários:

Larii disse...

Isso, me faz chorar mesmo! =')
Cara, ISSO FOI LINDO, muito lindo!
Não tenho palavras pra descrever tudo que eu passei com você, nem como você foi - e é- importante pra mim.
Obrigada.

Anônimo disse...

Que lírico...