segunda-feira, 19 de julho de 2010

Judith - parte 2

"[...]Assim, sem ao menos pensar no que poderia acontecer (e gostaria de tê-lo feito), corri em direção ao meu pai, empurrei-o da cadeira com todas as forças que pude e acabei caída por cima dele, num ato efusivo e ridículo de proteção. O homem soltou uma gargalhada funda, abaixou a arma e agachou-se sobre mim.

-Meu senhor não disse que tinha uma beleza dessas em casa... – disse segurando meu queixo, enquanto passava os olhos por todo o meu corpo.

-Judith, o que você está fazendo aqui? Pelo amor de Deus Judith, o que você fez... – meu pobre pai arfava, repetindo meu nome incansavelmente após cada respiro – Não a faça mal, eu posso pagar tudo... – clamou ao homem que mantinha suas mãos no meu rosto.

Meus pés ardiam. As lascas de vidro espalhadas no chão fincaram-se neles, e a cada movimento sentia como se rasgassem a pele para acomodar-se melhor. O homem soltou meu rosto e com esta mão tampou a boca de meu pai. A única roupa que eu vestia era uma camisola fina, e isto permitiu que ele escorregasse o revólver pela extensão da minha perna, passeando o metal gélido como se fosse um brinquedo.

-Sem dúvidas vamos nos divertir... – sussurrou próximo ao meu ouvido, e um cheiro de álcool e tabaco revirou-me o estômago.

Meu pai debatia-se, tentando-se livrar da mão que pressionava ora sua boca, ora sua garganta, a cada tentativa de fala. O homem era forte o suficiente para matá-lo sem ar a qualquer momento, mas preferiu empurra-lo para longe de mim e, numa voz traiçoeira, disse:

-Se eu fosse o senhor, não faria nada. Posso apagar vocês agora. Mas quero a tua cachorra primeiro... Aliviaria a tua dívida, o que acha? – e mostrou os dentes mais uma vez.

Ele manteve a arma erguida na direção de meu pai, encurralado em um canto, por muito tempo. Eu ainda estava no chão, mas tinha a roupa rasgada e o resto do corpo também havia encontrado as lascas de vidro. Senti suas mãos encardidas me tocarem por inteiro, enquanto o suor que escorria de suas têmporas pingava no meu rosto. Nunca desejei tanto conseguir vomitar, mas era impossível: não havia nada no meu estômago. Vasculhou o bolso e pegou um canivete. Meu coração disparou ao ver a lâmina levemente enferrujada, e como ele tivesse percebido meu desespero, agarrou-me com força e riu:

-Você vai pagar pelos erros do teu pai, cachorra! – e fez brotar sangue das minhas coxas – E você, senhor, veja que maravilha! – blasfemou contra meu pai.

Eu sabia que se tentasse sair dali seria pior. Não era capaz de andar, e a vida de meu pai estava em jogo tanto quanto a minha. Minhas pernas ardiam como se estivessem em chamas, e o sangue escorria incansável. Eu podia gritar. Mas cada grito meu significava mais uma ferida aberta. Eu não tinha mais fôlego. O homem ria o tempo todo, e ânsias me dominavam. Até que ele me puxou pela nuca e colocou-me de bruços no chão. O vidro misturado com sangue tocou meus seios, e eu gritei. Só pude sentir seu corpo empurrando meus quadris, sua saliva nas minhas costas, sua força erguendo-me a cabeça para trás. Realmente acreditei que iria morrer. Mas alguns minutos depois estava largada no chão, juntando as lágrimas aos demais dejetos e tentando encontrar forças para levantar.[...]"

para MARA.

e isso foi a coisa mais pesada que eu já escrevi, mas continua.

é, hora de respirar fundo e dizer 'o mundo não para pra gente se recompor.'

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